Nepal em crise: jovens escolhem líder interino em votação inédita pelo Discord
Protestos derrubam governo, Parlamento é incendiado e assembleia digital ganha força no paísO Nepal viveu dias de caos político após uma tentativa do governo de banir redes sociais no país. A medida desencadeou uma onda de protestos violentos que resultou na queda do primeiro-ministro e no incêndio do Parlamento. Mais de 30 pessoas perderam a vida durante os confrontos, enquanto Katmandu, a capital, foi colocada sob estado de sítio, controlada por forças militares.
Com o vácuo de poder instaurado, jovens recorreram justamente à tecnologia que estava prestes a ser proibida: o Discord. A plataforma online, comumente usada para comunidades virtuais, transformou-se em uma espécie de assembleia nacional digital, reunindo milhares de participantes em debates sobre o futuro político do país.
O servidor mais influente foi criado pelo grupo cívico Hami Nepal, que rapidamente ultrapassou 145 mil membros. Entre discussões acaloradas, votações improvisadas e forte pressão do Exército, os usuários escolheram o nome de Sushila Karki, ex-chefe da Suprema Corte, como indicação para assumir interinamente a liderança do país. Embora a decisão não tenha validade oficial, representa uma sugestão popular para conduzir o governo até novas eleições.

Especialistas afirmam que o movimento revela tanto o potencial democrático das plataformas digitais quanto suas fragilidades. Moderadores enfrentam trolls, desorganização e disputas internas, enquanto partidos tradicionais e monarquistas também tentam exercer influência nos debates virtuais.
Analistas internacionais apontam que o caso do Nepal pode se tornar um marco para entender como novas tecnologias estão moldando a política contemporânea. Em um país em crise, o uso de uma rede social como arena de deliberação popular expõe não apenas a força da mobilização digital, mas também os desafios de transformar manifestações virtuais em soluções concretas para sistemas políticos fragilizados.

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