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PF investiga, centrão se irrita e Lula vira culpado por não atrapalhar a Justiça

Quando a lei chega perto do cofre, o barulho no Congresso aumenta

As operações da Polícia Federal contra desvios de recursos públicos voltaram a provocar alergia em setores do Congresso — especialmente naqueles acostumados a circular longe de holofotes, mandados e prestações de contas. O incômodo, claro, já tem endereço certo: o governo Lula, acusado por parlamentares do centrão de não impedir investigações que avançam sobre emendas parlamentares e velhos conhecidos da política.

Foto: ReproduçãoPoliciais federais deixam gabinete da assessoria da presidência da Câmara dos Deputados após cumprirem mandado de busca e apreensão
Policiais federais deixam gabinete da assessoria da presidência da Câmara dos Deputados após cumprirem mandado de busca e apreensão

A gota d’água da semana foi a Operação Transparência, deflagrada nesta última sexta-feira (12), com mandados de busca e apreensão contra uma assessora ligada ao ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). A autorização partiu do ministro Flávio Dino, do STF, figura que virou persona non grata para quem prefere orçamento sem recibo e fiscalização sem lupa.

O desconforto não se limita às emendas. Investigações envolvendo o Banco Master e o Grupo Fit também passaram a rondar círculos próximos ao centrão — coincidência que, para alguns, só pode ser explicada por “perseguição política”. Afinal, quando a PF bate à porta, sempre há quem jure que o problema é o carteiro.

PP e União Brasil chegaram a antecipar a saída formal do governo, num gesto que mistura indignação seletiva e saudade dos tempos em que investigação era coisa distante. O senador Ciro Nogueira (PP) chegou a acusar um suposto “gabinete do ódio de Lula” — agora versão Planalto — por vazamentos e suspeitas. Provas, como de costume, ficaram para depois.

Do outro lado, auxiliares do presidente repetem o óbvio: o Executivo não controla a Polícia Federal, não dita decisões do STF e tampouco escolhe quem será investigado. Um detalhe que parece irritar ainda mais. Vale lembrar que Alexandre de Moraes, frequentemente citado nas reclamações, foi indicado por Michel Temer — mas, na hora do desconforto, a memória também costuma falhar.

Enquanto parte do Congresso fala em “intimidação”, o vice-líder do governo no Senado, Otto Alencar (PSD-BA), foi direto: quem desviou recursos públicos deve ser investigado e punido. “Zero queixa”, resumiu. Uma frase simples, mas aparentemente revolucionária em certos corredores.

A tensão aumentou ainda mais após decisão de Moraes que declarou inconstitucional a sessão da Câmara que manteve o mandato de Carla Zambelli (PL-SP), abrindo caminho para sua cassação. Para alguns deputados, o problema não é a condenação — é o precedente de que crime pode, sim, ter consequência.

Nesse clima, avançam no STF ações sobre a constitucionalidade das emendas impositivas e julgamentos de desvios envolvendo parlamentares. Coincidentemente, cresce também a pressa em votar projetos para reduzir penas de condenados por ataques à democracia.

Para o advogado Marco Aurélio Carvalho, do grupo Prerrogativas, trata-se de um casuísmo escancarado. Lula, segundo ele, deve vetar integralmente a proposta. Traduzindo: quando a Justiça começa a funcionar, alguns chamam de abuso. Quando o governo não interfere, chamam de conspiração.

No fim das contas, o atrito revela menos sobre o Planalto e mais sobre um velho hábito nacional: defender a moralidade pública até ela bater na própria porta.

Fonte: Revista40graus, mídias, redes sociais e colaboradores

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